Quando a dor da perda fala mais alto
O relógio marcava 23:50, dia 13/08/2012, após o dia dos pais. Recebi um telefonema, era minha prima Angélica. Eu, ainda meio sonolento logo estalei os olhos pensando já que era algo grave, mas nunca imaginaria que fosse algo grave com meu pai Luiz Carlos.
A notícia veio, sem entreveros, com uma voz melancólica e angustiada, Angélica me disse que guardas municipais haviam levado meu pai para o hospital e que não estava bem. Sem pensar muito me troquei, peguei o carro e fui a destino. Minha esposa, como sempre, estava ao meu lado me acompanhando e já prevendo o pior ela me consolava. A angústia se tornava maior quando pela terceira vez pedi informação à atendente, e da mesma forma me falou: _ aguarde que virão falar com o senhor!
Meus olhos fitavam pela fresta da porta que dava no corredor das salas de atendimento esperando por uma notícia que meu coração queria, mas na verdade minha razão já sabia que seria outra.
Entrei depressa quando o doutor me chamou na sua sala, me explicou tanta coisa, tanta doença, e mesmo assim ainda esperava ver meu pai aparecer, mesmo que debilitado, mesmo que em uma cadeira de rodas, mas nada... E ao término das explicações técnicas o médico disse: _Fizemos tudo o que foi possível, mas infelizmente...
Eu não podia acreditar, meu Deus, jamais iria passar pela minha cabeça ter uma notícia dessas de um familiar meu, mas eu sou como São Tomé, só acredito vendo, pois mesmo com a notícia dada pelo médico eu não acreditava ainda, nem ao ver os pertences de meu pai dentro de um saco sendo entregue pela enfermeira eu não queria crer. Foi então que fui levado aos fundos do hospital em uma sala fechada e lá estava o corpo dele recoberto com lençóis, não tive coragem de abrir, meu tio teve, eu vi, foi terrível, imagem inacreditável para mim, não tive coragem de me aproximar, a cena era forte de mais para um filho que passou muito tempo sem ver o pai e de repente encontra-o morto.
Fui até a recepção assinar uns documentos, minha tia assinou eu só tive a reação de me virar de lado recostar numa parede e chorar, as mãos de minha esposa serviram de consolo, mas nesse momento nada consolava.
Aí veio a parte mais chata e delicada, avisar os irmãos, como fui o primeiro a ter a notícia e constatar o fato liguei para todos, aí começou a correria perante a burocracia para poder enterrar uma pessoa. Eram 2:15 da manhã, eu na funerária com minha tia, minha prima e minha esposa, e em meio a ligações tentava acertar o velório. A mente fervendo, alma ferida, cabeça doendo, tudo confuso, mas eu tinha que me manter firme e forte porque sabia que mais cedo ou mais tarde esse momento iria chegar, e chegou.
Depois de ter acertado a parte burocrática que existe até no momento de dor, fui até o IML fazer a liberação do corpo do homem que me deu a vida, em frente à mesa do senhor Luiz Carlos (mera coincidência mesmo nome de meu pai), não contive as lágrimas ao ver a foto de um dos únicos documentos que restara junto as poucas coisas que meu pai ainda carregava consigo, o mais impressionante é que ele sempre carregou o fardo de amar minha mãe mesmo após 25 anos de separação, e é comovente saber que ele chegou no hospital carregando a certidão de casamento, sendo que nem RG ele tinha mais por ter perdido.
O velório foi marcado, e sepultamento estava marcado para as 16h no cemitério Nossa Senhora da Piedade em Várzea Paulista. No fim aconteceu tudo o que meu pai tanto queria, mesmo que nesta situação, ele teve o perdão da minha mãe que foi até lá e o perdoou de coração, teve os filhos todos unidos, a maioria dos familiares estiveram lá para lhe prestar a última homenagem.
O choro era iminente, a cada boa lembrança as lágrimas rolavam e ver seu corpo ali já sem vida era como uma lâmina cortando meu coração, ferindo a alma. Nesse momento lembrei de um pedido que ele me fez quando eu tinha meus 12 anos de idade, ele me disse: _Filho, quando eu morrer toca essa música pra mim:
Meu filho Deus que lhe proteja e onde quer que esteja eu rezo por você, eu adoro ver você sorrindo, seu sorriso faz de tudo eu esquecer...
Não pude tocar a música, mas falei com ele em voz baixa que não havia me esquecido do seu pedido e meio cambaleando fui até o carro, tomei um pedaço de papel e uma caneta em mãos e em meio a lágrimas fui escrevendo um trecho da canção. Coloquei ao lado de meu pai o papel, e ele foi para seu descanso com minha camisa, minha calça que, de coração quis que ele usasse, levou com ele todo seu conhecimento, todo seu sofrimento, toda sua saudade da família e deixou conosco uma saudade imensa que jamais será abrandada.
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