Escravo de si mesmo
Eu mesmo sou uma das pessoas que vive tentando ser melhor, tentando mudar hábitos, e muitas vezes se esbarra na própria ignorância e acaba escravo de si mesmo. De manhã, ao pegar o ônibus, lotado, vejo ali uma vitrine de sonhos, pensamentos abstratos, cansaço, preguiça, otimismo... Na verdade vejo muito mais que isso, são pessoas que, de certo modo, aprendem a conviver com gente diferente, estamos todos confinados dentro de um ônibus. Passando pela rua começo a observar outras coisas. O pobre mendigo que estende a mão a espera de uma mísera moeda que tem menos valor que os sonhos desse desfavorecido da vida.
Observo a moça passando por mim com ar de rainha, soberba, como se ela fosse o centro das atenções, nem mesmo um "bom dia" ela diria ao pobre mendigo por se achar superior a ele, ou por achar que ele pertença a uma outra classe, talvez à classe dos invisíveis. Quanta história passa por mim antes mesmo que eu chegue ao meu local de trabalho, quanta história eu poderia escrever se não fosse a minha desculpa esfarrapada de que nunca tenho tempo,talvez não tenha o tempo que eu desejasse, talvez eu seja apenas mais uma pessoa sendo escrava do tempo, do capitalismo e de todos os males modernos que o homem inventou para tirar tempo de si mesmo. Ao folhear o jornal, de tanta tranquilidade que há no momento o barulho das páginas chegam a despertar os preguiçosos de plantão, e meus olhos arregalam-se ao ler as barbáries do nosso mundo cão.
Nesse momento me pego a pensar, será que todo dia vai ser sempre assim? Meu tempo é curto, meus sonhos são muitos, minhas obrigações são demais para um simples rapaz que só quer vencer na vida, mas vive sendo escravo de si mesmo.
João Pachelli
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